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24 novembro, 2011

ARTIGO ESPECIAL: MIX RELIGIOSO

Nossa sociedade brasileira é formada por um imenso caldeirão cultural e humano. Dentro desse caldeirão a questão religiosa ganha contornos impressionantes, a ponto de termos não apenas uma grande miscigenação racial, mas também um forte sincretismo religioso. Em terras tupiniquins o catolicismo do português branco englobou o animismo indígena e o misticismo africano, de modo que no período colonial os negros, que foram impedidos de praticar sua religião, conseguiram criar pontes entre os orixás e os santos católicos. Após a proclamação da República veio à liberdade religiosa, mas o processo sincrético tornou-se mais forte e complexo.
Os primeiros grupos protestantes vieram no final do século XIX e traziam uma liturgia americana e até certo ponto criavam uma linha divisória entre a cultura brasileira e católica com forte tendência sincrética e a cultura americana e protestante com ares de superioridade e racionalidade.
Entretanto, no início do século XX teve início o movimento pentecostal clássico, que teve seu início em 1906 na rua Azusa com o pregador negro William J. Seymour. Não tardou que o movimento pentecostal chegasse ao Brasil. Entre 1910 e 1950 houve uma primeira onda com a fundação da Congregação Cristã e da Assembléia de Deus. Nessa primeira onda surgiram pequenas denominações pentecostais, tais como a Igreja de Cristo, Igreja Evangélica do Calvário Pentecostal e a Missão Evangélica Pentecostal do Brasil. A partir de 1950 veio uma segunda onda onde surgiu a Cruzada Nacional de Evangelização, de onde surgiu a Igreja do Evangelho Quadrangular com ênfase na cura divina. No seu rastro sugiram outros grupos, tais como O Brasil para Cristo, Deus é Amor, Casa da Bênção e Igreja Nova Vida. Nesta segunda onda muitas igrejas tradicionais sofreram divisões motivadas pela questão dos dons espirituais, surgindo a Igreja Batista Renovada, Presbiteriana Renovada e tantas outras com essa nomenclatura. Uma terceira onda surgiu na metade da década de 70 em que conhecemos como Movimento Neopentecostal. Diferente das igrejas do movimento clássico, em que a ênfase repousa no “batismo” do Espírito Santo, o neopentecostalismo se caracteriza por uma mensagem positivista, com ênfase na prosperidade financeira como marca da bênção de Deus e uma forte concepção sincrética. Desse movimento grupos como Universal (1977) e Internacional da Graça (1980) são as mais conhecidas, seguidas da Renascer (1986), Sara Nossa Terra (1992), Ministério Internacional da Restauração (1992) e tantos outros grupos que surgiram depois.
A grande questão que muitos levantam é a seguinte: Por que temos tantas igrejas com inúmeras doutrinas? Por que essas igrejas parecem não possuir nenhum vínculo com a Sagrada Escritura, embora se digam cristãs? A questão não é fácil de ser respondida, mas encontramos vestígios que possam explicar o mix religioso que vivemos atualmente. Podemos destacar a falta de conhecimento bíblico e de formação teológica, uma liturgia mais livre com fortes apelos emocionais, o uso de ideias e métodos mais conhecidos da cultura popular como o uso de símbolos e meios que traduzem a busca pelo divino como algo místico e o personalismo de muitos pastores e líderes religiosos. Nosso Brasil é um país com forte tendência de culto às personalidades e de um populismo exacerbado, de modo que muitos pastores surgem como verdadeiros “salvadores”, como “ungidos” e “profetas”. Esse contexto fortalece o sincretismo religioso.
O pior é que nesse tempo pós-moderno a falta de identidade agrava a situação, de modo que as pessoas vão às igrejas não porque crêem em algo, mas porque esperam que algo funcione, seja uma oração, uma campanha, um pingo de óleo ou um exorcismo. Essa situação crítica acaba com pessoas que dizem crer em Jesus, mas que lêem horóscopo, fazem mandingas, usam palavras mágicas (desde “tá amarrado” até “cruz, credo!”), cantam louvores na igreja mas também fazem sua “fezinha” na loteria e em outras superstições. Onde vamos parar?
O profeta declarou: “Meu povo é oprimido por uma criança; mulheres dominam sobre ele. Meu povo, os seus guias o enganam e o desviam do caminho” (Isaías 3:12). Se as pessoas lessem a Bíblia encontrariam a acusação do profeta Jeremias: “Sim, estou contra os que profetizam sonhos falsos, declara o SENHOR. Eles os relatam e com as suas mentiras irresponsáveis desviam o meu povo. Eu não os enviei nem os autorizei; e eles não trazem benefício algum a este povo, declara o SENHOR” (Jeremias 23:32). Sim, neste caldeirão religioso que vivemos hoje em dia “... há morte na panela!...” (2Reis 4:40). A coisa vai piorar, pois os falsos-profetas do mix religioso... abandonaram o caminho reto e se desviaram, seguindo o caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o salário da injustiça” (2Pedro 2:15).
Portanto, abandonemos toda e qualquer prática que não seja bíblica. Rejeitemos de forma veemente as influências humanas e carnais que tentam ser mais atraentes como se o Evangelho de Cristo necessitasse disso. Apenas “... livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé...” (Hebreus 12:1,2).
Gilson Souto Maior Junior é Conselheiro editorial do JCG, Pastor sênior da Igreja Batista do Estoril, Professor de Antigo Testamento, Hebraico e Teologia do Antigo Testamento da FATEO

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